terça-feira, 28 de julho de 2009

Crônica: Conversa de Pai e Filha

Antes de entrarmos em recesso escolar, cada professor da rede municipal teve direito a receber dois livros do Programa Rio. Uma Cidade de Leitores da Secretaria Municipal de Educação.

Dos autores nacionais, eu escolhi o livro "As Cem Melhores Crônicas Brasileiras", organizado por SANTOS, Joaquim Ferreira dos, Ed. Objetiva - Rio de Janeiro - 2007. Dos estrangeiros, optei por "O menino do Pijama Listrado", BOYNE, John, CIA das Letras - São Paulo - 2007.

Como adoro ler crônicas, eu comecei, primeiramente, pelo livro nacional, que reúne 62 autores e cem crônicas em ordem cronológica. Como o próprio organizador cita na parte introdutória, "a crônica brasileira tem uma cara própria, leve, bem humorada, amorosa, com o pé na rua". Eu amei!

Já soube pela minha outra irmã e professora também, que a história "O menino do Pijama Listrado" é triste e, ao mesmo tempo, muito bonita.

Bom, folheando antes de iniciar a leitura propriamente dita da obra, deparei-me com um título que muito me chamou a atenção... Conversa de Pai e Filha.

A crônica é de autoria de Antônio Maria e, nossa, como eu pude enxergar através desta a relação do meu marido com a nossa filha, Ana Carolina.

Eu, enquanto mãe, tenho estas preocupações, mas antes mesmo de criticar possíveis atitudes, tento conversar e orientar a respeito, inclusive, demonstrando em casos reais pelos quais presenciamos ou ouvimos falar.

Quero ser uma amiga para ela, antes de tudo! Sei que nossos mundos, na maioria das vezes, passam e repassam conceitos contraditórios, antagônicos de acordo com a realidade.

Eu venho acompanhando as suas mudanças de criança para adolescente e acho legal ver o seu desenvolvimento. Tento o máximo acompanhá-la e entendê-la. Sei que é uma relação difícil de ser livre, sem mentiras e segredos, mas posso assegurar qua as minhas intenções são únicas e sinceras.

Já o meu esposo teria os mesmos pensamentos expressos na referida crônica e, acreditem, acho que a sua posição não seria igual a que o autor define no final da obra.

Por estas questões e por este espaço estar voltado para um público infanto-juvenil e para profissionais da Educação, gostaria de compartilhar com todos a crônica, a qual me refiro.

Imagem capturada da Internet

CONVERSA DE PAI E FILHA

Antônio Maria

- Pai, eu tenho um namorado.

Pai, que ouve isso da filha mocinha, pela primeira vez, sente uma dor muito grande. Todo o sangue lhe sobe à cabeça, e o chão do mundo roda a seus pés. Ele pensava, até então, que só a filha dos outros tinha namorado. A sua tem, também. Um namorado presunçosamente homem, sem coração e sem ternura. Um rapazola banal, que dominará sua filha. Que a beijará no cinema e lhe sentirá o corpo, no enleio da dança. Que lhe fará ciúmes de lágrimas e revolta; pior ainda, de submissão, enganando-a com outras mocinhas. Que, quando sentir os seus ciúmes, com toda a certeza, lhe dirá o nome feio e, possivelmente, lhe torcerá o braço. E ela chorará, porque o braço lhe doerá. Mas ela o perdoará no mesmo momento ou, quem sabe, não chegará, sequer, a odiá-lo. E lhe dirá, com o braço doendo ainda: “Gosto de você, mais que tudo, só de você.” Mais que de tudo e mais que dele, o pai, que esse porcaria de rapaz fará a filha mocinha beber whisky, e ela, que é mocinha, ficará tonta, com o estômago às voltas. Mas terá que sorrir. E tudo o que conseguir dela será, somente, para contar aos amigos, com quem permuta as gabolices sobre suas namoradas. Ah! O pai se toma de imensa vontade de abraçar-se à filha mocinha e perdir-lhe que não seja de ninguém. De abraçá-la e rogar a Deus que os mate, aos dois, assim, abraçados, ali mesmo, antes que torça o bracinho da filha. Como é absurda e egoisticamente irracional o amor de pai! Mais que ódio de fera. Ele sabe disso e se sente um coitado. Embora sem evitar que todos esses medos, iras e zelos passem por sua cabeça, tem que saber que sua filha é igual à filha dos outros; e, como a filha dos outros, será beijada na boca. Ele, o pai, beijou a filha dos outros. Disse-lhe, com ciúme, o nome feio. E torceu-lhe o braço, até doer. Nunca pensou que sua namorada fosse filha de ninguém. Ele, o pai, humanamente lamentável, lamentavelmente humano. Ele, o pai, tem, agora, que olhar com o maior de todos os carinhos e sorrir-lhe um sorriso completo de bem-querer, para que ela, em nenhum momento, sinta que está sendo perdoada. Protegida, sim. Amada, muito mais. E, quando ela repetir que tem um namorado, dizer-lhe apenas:

- Queira bem a ele, minha filha.

7 comentários:

  1. Professora adorei a cronica,a professora e sempre verdade ne tem pai que fala quee menino não presta e sabe o que vai fazer eu tenho quase certezaa que ele tambem fez parecido ou igual!! .... Voltando a Ativaa

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  2. Que bom ver-lhe novamente, Jheniffer! Você sumiu mesmo, não!
    Fico feliz por você ter gostado da crônica.

    É muito engraçado, mas os pensamentos são iguais. Beijos

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  3. Professora, acho que tudo da crônica é verdade, a maioria dos país tem esse pensamento, mesmo o paí mais descuidado com a filha quando vê ela agarrada com um garoto, dando um beijo nele fica nervoso, pois ele percebe que a "filhinha" dele está crescendo e seu mundo começando a se abrir.E como diz a crônica, ele já fez isso um dia, e tem que admitir tudo.

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  4. Tamiris, eu também concordo com você. Nós, pais e, principalmente, o pai (por ser homem) ao presenciar ou tomar conhecimento disso se sente como um estranho entrasse no reino de sua filha, onde '- até então - só habitavam a Princesa (filha), o rei (pai) e a rainha (mãe).

    A filha sempre será a menininha, a criança indefesa e frágil, quando muitas das vezes, ela é totalmente ao contrário: muito pé no chão, madura e segura de si.

    Não adianta... um dia, vocês também serão pais e terão o mesmo pensamento.

    Você já passou por uma situação parecida?

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  5. Nem tanto, meu pai que é exagerado e muito antigo ¬¬
    eu só falei com meu amigo normalmente, e o beijo foi na buchecha rs.

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